Arcabouço fiscal: o que é? – 1
A expressão arcabouço fiscal, empregada por integrantes do grupo que preparou a transição de governo, tem sido repetida por autoridades que assumiram a gestão econômica em primeiro de janeiro. Qual é o significado dessa expressão, começando pelo termo fiscal. Em economia, a questão fiscal envolve quatro componentes das finanças públicas: receita, despesa, resultado (que pode ser equilíbrio, superávit e, quase sempre, déficit) e, como consequência do déficit, a dívida.
Em praticamente
todos os países, a receita orçamentária de caráter ordinário, constituída pelos
tributos e por outras formas de imposição, é insuficiente para fazer frente aos
encargos da economia pública. Receita menor que despesa significa
déficit e como solução recorre-se ao crédito público, ou seja, a fontes
variadas de financiamento, em especial, a tomada de empréstimos de curto, médio
e longo prazos. Dessa forma, constitui-se a dívida pública, cuja efetiva
liquidação dependeria da ocorrência de superávits na execução
orçamentária. Sem os superávits, que são sempre muito difíceis de obter,
a dívida se perpetua e crescerá se for alimentada por novos déficits.
O indicador mais
utilizado para medir o tamanho da dívida pública de um país é relacionar
a dívida com o Produto Interno Bruto (PIB). Conforme a OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em dados de 2021, alguns dos
países com maior endividamento público bruto são: Japão (259,4% do PIB), Grécia
(224,3%), Itália (173%), Estados Unidos (148%), Inglaterra e Portugal (143,6%),
Espanha (142,7 e França (137%).
O Brasil, cuja dívida
pública bruta atingiu 110% do PIB, tem endividamento maior que o da
Australia (83,7%) e menor que o do Canadá (131,1%). A dívida brasileira
é maior quando comparada com outros países da América Latina como, por exemplo,
Chile (41,5%), Colômbia (82,9%) e México (54,5%).
A Comunidade
Europeia estabeleceu em 1992, no Tratado de Maastricht, metas de déficit
e de endividamento para as finanças públicas dos países membros. De acordo com os
chamados "critérios de convergência", o déficit orçamentário
de um país não pode exceder a 3% do PIB; déficits acima desse teto seriam aceitos caso a transgressão desse limite fosse
temporária e excepcional. Já o estoque da dívida pública não deve ser
superior a 60% do PIB; montantes acima desse teto seriam aceitos com o declínio
gradual da dívida ou no caso de o crescimento da dívida ser
temporário e estar próximo do teto de 60%. Não
estão previstas punições para o descumprimento das metas e, em muitos casos, isto
está ocorrendo.
Seja nos países membro da Comunidade Europeia
ou em qualquer outro país soberano, manter controle sobre o déficit
orçamentário e, assim, controlar o crescimento da dívida é o objetivo da
política fiscal.
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