“Orçamento secreto” – 4
Conforme demonstrado no post
anterior, na Lei Orçamentária da União de 2020 o “orçamento secreto” foi
constituído por emendas do Relator-Geral que somaram R$ 20 bilhões de reais. Na
base de dados do Siga Brasil, mantido pelo Senado Federal, é possível
identificar as áreas de atuação do governo contempladas com os recursos dessas
emendas.
Do total das emendas do Relator-Geral, em valores
arredondados, R$ 6 bilhões de reais (30%) foram destinados à função Urbanismo,
R$ 4 bilhões (20%) à função Saúde, R$ 2 bilhões (10%) à função Educação
e R$ 1,2 bilhão (6%) a cada uma das seguintes funções: Segurança Pública,
Agricultura e Transportes. Outras dezessete áreas – funções – foram
contempladas com os recursos restantes. Algumas delas de reconhecida
importância foram beneficiadas com percentuais bem menores: Saneamento
(2,26%), Organização Agrária (1,40%), Cultura (0,80%), Ciência
e Tecnologia (0,23%) e Habitação (0,11%).
Dos R$ 6 bilhões de reais destinados à área de Urbanismo,
mais da metade (55%), estranhamente foram classificados como Assistência
Comunitária que é uma subfunção de Assistência Social e 37%
foram classificados na subfunção Infraestrutura Urbana. Solução
igualmente estranha foi a reunião de todos os gastos na duas subfunções no programa
2217 denominado Desenvolvimento Regional, Territorial e Urbano, a cargo
do Ministério do Desenvolvimento Regional.
A elaboração de programas e ações – formato de apresentação do
orçamento federal – é uma tarefa difícil e trabalhosa mesmo no âmbito dos órgãos
do poder executivo. Programas com seus objetivos são criados nos planos
plurianuais e as ações que viabilizam o alcance dos objetivos dos programas são
então previstas nos orçamentos anuais.
No Projeto de Lei Orçamentária para 2020, encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional para apreciação e aprovação, o programa 2217 Desenvolvimento Regional, Territorial e Urbano, na parte vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, estava contemplado com apenas R$ 186 milhões de reais. Depreende-se que os órgãos do referido Ministério estavam preparados para executar esses valores. Através das emendas do Relator-Geral receberam autorização para gastar quase trinta vezes mais, isto é, R$ 5,5 bilhões de reais.
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